segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Efemeridade "Intemporal"



Em “O Espaço Vazio”, Peter Brook afirma que “Posso chegar a um espaço vazio qualquer e usá-lo como espaço de cena. Uma pessoa atravessa esse espaço vazio enquanto outra pessoa observa – e nada mais é necessário para que ocorra uma acção teatral.”. Ora esta afirmação leva-nos por um caminho diferente daquele que no senso comum nos diz que o teatro é ……. num teatro. Este facto constrói uma relação mais íntima e sólida do teatro, enquanto uma performance, com a arquitectura, seja ela do espaço confinado do teatro, como já foi referido, ou de um outro espaço qualquer, como o espaço urbano/espaço público. Este tipo de abordagem (da encenação face à arquitectura), permite-nos levantar uma série de questões em relação à função para que o espaço arquitectónico é pensado. Como é óbvio, o arquitecto pensa o espaço de acordo com as suas necessidades, de acordo com o programa em que se trabalha, porém, muitos desses espaços têm uma capacidade tal que acabam por ser apropriados de variadíssimas maneiras. Um dos exemplos mais banais é um simples lance de escadas, que apesar de ter o seu uso básico (descer e/ou subir), há outros modos de apropriação das mesmas, consoante a sua integração/envolvente (cenário em que se enquadra), podendo ser usado como auditório, como obstáculo para “skaters”, e em última instância enquanto bancada para venda mercantil, como pode ser observado em Lisboa, ao largo do Panteão Nacional (conhecida como “Feira da Ladra”).


Este lado de cenário urbano é bastante explorado, particularmente em obras públicas, em que se procura fazer uma boa gestão do público/privado, surgindo muitas vezes resultados bastante interessantes com a conjugação destas duas realidades que acabam por coexistir na realidade social do Homem urbano. A realidade urbana, a realidade das cidades… É neste cenário que se exploram e se manipula, de certa maneira, o comportamento do público, no modo de habitar o espaço, tendo em conta que dada a diversidade de culturas que as sociedades actuais apresentam, se vai tornando um verdadeiro desafio para o arquitecto.


Também a evolução das sociedades, “urbanas” principalmente, permite novas abordagens, novos modos de olhar para o espaço na arquitectura, em particular o espaço público, porque quando falo de espaço urbano, temos que ter em conta aquilo que faz parte desta realidade, e o que a caracteriza, e nesse aspecto, não tenho dúvida em afirmar que se trata do Tempo… Quando falo do Tempo, falo da evolução, da mudança, da transformação, da conjugação, do diálogo, do contraste e da harmonia… tudo isto está presente no cenário urbano, tudo isto faz com que nós arquitectos, pensemos o espaço urbano de acordo com este pressuposto de constante metamorfose, em que nada será o que foi um dia…, nada se manterá como foi pensado para ser. Uma obra de arquitectura pensada para um espaço urbano tem que ser pensada enquanto elemento integrante qualificador do cenário urbano que se vai juntar aos demais existentes, tendo em conta essa característica de constante transformação. O cenário urbano é um cenário que se constrói ao longo do tempo, através de várias épocas, várias gerações, e não tem uma definição específica do que é e como é, uma vez que essa variação ocorre, não só através do Tempo, a longo e médio prazo, mas também consoante a hora e o dia, estando dependente se está sol, se não, se é de dia, ou de noite… variações de Tempo e do tempo.

(excerto da minha Tese de Mestrado - em execução-)